A Caixa
Contraplacado de bétula, aço e corda de sisal
O objeto (fechado): 43 x 42 x 25 cm
Quando exposto (fechado): 316 x 372 x 111 cm
Quando aberto a altura é variável.
2017
O objeto (fechado): 43 x 42 x 25 cm
Quando exposto (fechado): 316 x 372 x 111 cm
Quando aberto a altura é variável.
2017
Há uma caixa para cada conceito. O que há no conceito? O que há na caixa? Não há nada na caixa. No conceito? Apenas mais do que ele e menos do que ele, não ele.
“Os conceitos são gavetas que servem para classificar os conhecimentos, os conceitos são roupas de confeção que desindividualizam conhecimentos vividos. Para cada conceito há uma gaveta no móvel das categorias. O conceito é o pensamento morto, já que é, por definição, pensamento classificado.” 1
Há uma rapariga que saí do armário, aliás, que assume que nunca lá esteve! Lhe perguntam qual a sua gaveta, onde se encaixa, onde mora. Ela não encontra um local para morar. Cada caixa que pensa que lhe serve, ela abre e examina. Nunca há nada lá, nada do que designa, e ela não se ajusta. Sempre que abre uma caixa, tudo salta fora dela, tudo procura outra. Tudo constantemente a “conectar-se e a seguir desconectar-se dá a ilusão de movimento, de liberdade, de um desejar diverso, rico e múltiplo. Dá a ilusão de uma continuidade de movimento que traz consigo a inscrição de todos os presentes pontuais num tempo único (fora de tempo) como «tempo» do sentido da vida. Movimento realmente ilusório, pois esse saltitar de uma pequena coisa para outra não faz senão escamotear o sentido de uma inscrição que prolonga outra inscrição.” 2
Ela tem um desejo. Ela quer saltar. Não de caixa em caixa, mas do nada
para o nada, que tudo é e onde tudo pertence. Ela quer ser o que é, mas não o ser. Uma rapariga que não o quer ser, mas que não o quer deixar de ser.
Não, ela não está perdida, ela simplesmente percebeu que não há razão para querer encontrar-se.
_______________________
1 BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. 1ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
2 GIL,José. Portugal, hoje: o medo de existir. 9ª reimp. Lisboa: Relógio D'Água, 2005.